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#Ciberativismo



Saber que alguém não gosta de você incomoda. Juntar dez pessoas com esse mesmo sentimento chega a ser perigoso. Se as colocarmos juntas num mesmo espaço e você se tornar o tópico da conversa, elas irão descobrir mais coisas sobre você, o que pode alimentar esse desgosto prévio. A partir desse momento, em que a questão deixa de ser somente individual e passa a ter números, tudo indica que realmente tem algo de errado com você, não é? As redes sociais virtuais são esses espaços, já que os tópicos de conversa podem ser facilmente encontrados com uma simples busca ou uso de uma hashtag sobre o assunto.


É normal que as pessoas utilizem as redes sociais para expor uma situação desagradável. Quando alguém reclama de um produto no Twitter é comum que pouco tempo depois ela receba uma mensagem da empresa se prontificando a solucionar o problema, mesmo que o estabelecimento não esteja marcado, basta citar seu nome ou o nome do produto. Essa é uma ótima forma que as empresas encontraram de demonstrar atenção ao consumidor e intenção de mudar a situação ao seu favor, o que funciona na maioria das vezes. Não é necessário que essa pessoa seja seguida por muitas ou que seu perfil tenha muitos acessos (mas se tiver, o peso é ainda maior) para que essa atitude seja tomada. "Você é ouvido". Sua opinião está lá, registrada na web para que qualquer um possa ler, então é bom que ela seja a melhor possível.


Você nas redes sociais, individualmente, já tem voz. Ao se juntar com vários outros que partilhem da mesma ideia, todos conseguem atingir mais e mais pessoas, fazendo com que um determinado problema tenha visibilidade e, assim, possa ser tratado com maior seriedade pelos responsáveis. As hashtags tem essa particularidade. Usadas tanto para unir os comentários a respeito de um episódio de série televisiva quanto para debater sobre assuntos políticos, econômicos e culturais, elas são capazes de gerar ações coletivas e movimentos sociais.


O ciberativismo, denominado pelo professor Sérgio Amadeu como “[...]um conjunto de práticas em defesa de causas políticas, socioambientais, sociotecnológicas e culturais, realizadas nas redes cibernéticas” mudou nossa forma de discutir, principalmente questões políticas, pois permitiu que a população tivesse papel participativo nos debates. Aquilo que antes era dito em ambientes privados e com pessoas específicas da área passou a ser discutido pela própria população. O conteúdo produzido nas redes sociais traz à tona questões relevantes para a vida de todos, fazendo com que as opiniões de indivíduos que antigamente não eram tratadas com relevância tenham a capacidade de influenciar e modificar a sociedade, com uma importância tão grande quanto a de outras instituições.


Não é difícil encontrar casos em que publicações nas redes sociais modificaram cenários políticos importantes. Para Ghannam (2011), o poder das mídias sociais e das novas tecnologias, principalmente da telefonia móvel, provaram ser uma grande ameaça para os governos que não agradam as massas. Em 2009, na Moldávia, a revolta popular ficou conhecida como “Revolução do Twitter” por ter sido organizada a partir da rede, chegando a ser capaz de reunir mais de 20 mil pessoas nas ruas contra o governo da época. O que começou com uma troca de mensagens entre amigos virou notícia no mundo inteiro.


No mesmo ano, ativistas no Irã usaram das redes para coordenar os protestos contra o presidente Mahmoud Ahmadinejad, já que, ao contrário dos blogs, o Twitter não era filtrado pelo governo, possibilitando que os iranianos expressassem a decepção com o resultado das eleições. A Primavera Árabe, revoltas que se iniciaram na Tunísia e se espalharam por países da região como Egito, Líbia e Síria, também utilizaram as redes sociais como seu papel estratégico, oferecendo informações em tempo real a qualquer pessoa que tivesse acesso a internet. De certa forma, este cenário fez com que a cobertura e a repercussão da revolução não ficassem restrita aos países da região.


“Não podemos dizer que, no caso da Líbia, Egito e Tunísia, foram as redes sociais que revolucionaram o movimento. O movimento já existia, a insatisfação popular já existia, só que as redes sociais potencializam a forma de atuação. Então, elas permitem que mais pessoas postem mais coisas, mesmo em regimes ditatoriais cujo controle é de ordem máxima”, explica a professora Pollyana Ferrari durante a entrevista que concedeu à IHU On-Line. A professora Adriana Amaral complementa: “O poder revolucionário está nas pessoas, mas as redes potencializam e redistribuem esse poder, para o bem ou para o mal. Houve uma demanda que as mídias massivas de repente não estavam conseguindo contemplar”. Na mesma entrevista, a professora Sandra Montardo afirma que o papel do Twitter é importante porque está sendo utilizado em busca da democracia.


A participação, o acesso à informação e também a possibilidade de comunicação são pontos importantíssimos para a democracia, todos possíveis através das redes sociais. Os meios de comunicação são, muitas vezes, os primeiros alvos dos governos totalitários, sendo censurados e limitados na tentativa de controle da população e da informação repassada, como foi o caso do Egito em 2011, quando o governo chegou até a suspender o uso da internet pela população. Isso nos mostra poder que a rede tem de revolucionar a democracia. Helga Almeida, cientista social e doutoranda em ciência política pela UFMG, comenta: “Por meio dos novos canais fornecidos pela internet, os movimentos sociais conseguem agora se articular e pautar, dentro de espaços virtuais amplos, questões e discussões que não serão apresentadas nas mídias tradicionais. Portanto, é de extrema importância que criem espaços interativos próprios e que conduzam a novos padrões de reflexão. A internet torna-se ferramenta e alavanca de transformação social e espaço para que se revele a diversidade do descontentamento”.


 COMUNICAÇÃO, TECNOLOGIA E TWITTER 

 

Produto da disciplina Comunicação e Tecnologia, da Faculdade de Comunicação da UFBA, ministrada pelo professor André Lemos, esse blog tem como objetivo identificar a relação entre os conceitos dados na disciplina e a rede social Twitter.

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